domingo, 13 de março de 2011

AH! A COR DE SEUS OLHOS!!!


Nunca disseram isso para mim... também, pudera!. Com olhos da cor de burro quando foge, o que poderia esperar? Por sorte, chegaram a dizer que a luz deles era especial. Um consolo por não ter olhos cor violeta como Liz Taylor. Nem a cor dos olhos, nem a beleza da pele, do rosto, dos dentes... Todos conhecem bem aquela definição para pessoas não tão dotadas em termos de beleza - tão simpática! Tampouco nasci com os olhos cor de mel da Rapunzel. Bem, essa história de cores rende boas conversas!
Minha guerra colorida começou há dez anos, quando comprei o apartamento e quis pintar uma parede de vermelho/vinho. Toda feliz, encontrei o tom perfeito em uma tabela de cores dessas que as indústrias disponibilizam; pedi ao César, excelente profissional da pintura, que desse a primeira mão para testarmos. Tive um ataque de riso quando o vinho que esperava apresentou-se, acreditem, cor de abóbora! Lembrava um bordel de beira de estrada! Juro que nunca entrei em estabelecimento congênere, mas vi em filmes mexicanos. Pedi que suspendesse a pintura que ele tampouco havia gostado, pois tinha achado uma cor muito “sensual”. Isso confirmou minha sensação de que bem poderia fingir estar numa casa de tolerância em plena Lagoa Rodrigo de Freitas.
Virei Ana Palmeirão, “prima” da Rosa Palmeirão, vivida por Luiza Thomé na novela da Globo exibida na época, “Porto dos Milagres”. Ela tinha um “centro de lazer noturno”, e as paredes, por certo, deveriam ser da cor que encontrei nas minhas. Como meu anjo da guarda não dorme em serviço, consegui realizar, dias depois, meu sonho de consumo com o vermelho/vinho da marca International, tintas que, infelizmente, não são mais fabricadas.
Agora, precisei de nova pintura na casa, e o drama recomeçou. Olhei vários mostruários e escolhi as duas cores que mais gostei, bem próximas às originais, uma para a tal parede escandalosa e outra para o resto da casa. Podem acreditar: nenhuma das duas funcionou. Essa tecnologia moderna, para mim, não serve. A máquina/computador mistura a cor e pronto! Tudo errado! E uma delas me faz parecer ridícula... em vez do salmão claro escolhido, ficou tudo simplesmente cor-de-rosa! Voltei à primeira juventude... pink na casa toda! Decidi abandonar a luta e deixar assim mesmo... provavelmente, minhas netas caçulas vão adorar! Daqui a dez anos, quem sabe eu consigo o que desejo?
Curiosa, fui ler sobre as cores. Diverti-me horrores “aprendendo” que cor é a percepção visual provocada pela ação de um feixe de fotos sobre células especializadas da retina, que transmite impressões para o sistema nervoso, através de informação já processada no nervo ótimo. Para complicar mais, descobri que a cor de um objeto é comandada pelas médias de frequência dos pacotes de onda que as moléculas que o constituem reflete. A coisa terá, então, uma determinada cor quando não absorver, justamente, os raios correspondentes à frequência daquela cor que exibe. Poucas vezes me senti com o Q.I tão parecido com o de uma ameba burra! Será, então, que o alimento não terá gosto de maionese se absorver a “freqüência” da maionese? Para lembrar tal gosto, precisa absorver outros sabores e rejeitar justamente o que deseja ter? Melhor nem tentar entender.
As cores também são “traduzidas”, e culturas distintas vão atribuir significados diferentes para cada cor. O vermelho, por exemplo, foi muito usado pelos romanos, pelos nazistas e pelos comunistas. Hoje em dia, todo fast-food que se preze apela para a cor do sangue, que provoca sempre uma reação nas pessoas. Pode ser, dependendo do olhar, um sinal de paixão, de energia, de amor, de alegria... mas também de perigo, raiva, fogo, revolução... Como sempre, o que vale é a versão, e eu fico com a primeira.
Enquanto isso, o branco lembra a paz, o verde, a natureza; o azul nos leva a pensar em harmonia, o preto, em sofisticação (nosso pretinho básico), mas também em luto... E por aí vai.
Uma das coisas mais bonitas que vi sobre o tema foi o livro Flicts, do nosso brilhante Ziraldo. Nele, temos as cores que todos amam e uma menos querida. Como acontece com as pessoas... Quem não leu, perdeu; mas ainda dá tempo! Compre para um filho, ou neto, afilhado ou sobrinho. Ou para você mesmo,sem precisar disfarçar!
Nas flores, a natureza explode em cores inimagináveis. Nas borboletas, também. Mesmo quando a flor é branca, sua beleza não tem medida. Quem nunca se imaginou dando uma grande festa num salão inteiramente decorado com flores brancas? E um buquê de noiva de rosas vermelho-sangue? E as maravilhosas orquídeas que os jovens costumavam oferecer às moças que os acompanhariam aos bailes? Flores nos fazem sonhar...
O homem, desde que começou a se entender por gente, quis reproduzir o mundo que via e também o que imaginava. E sempre em cores! As pinturas nas cavernas de Lascaux, na França, datam, segundo especialistas, de mais de 17 mil anos. Só conseguiam usar o marrom, o vermelho e o amarelo, pigmentos de origem mineral, mas o resultado final é extraordinário. Pensava que o vermelho sempre era obtido com o sangue de animais... lá, em Lascaux, essa cor vinha das hematitas, tão comuns aqui em nossas Minas Gerais. Na Grécia antiga, o preto, o branco, o vermelho e o amarelo eram as cores usadas pelos artistas. Se pudessem entrar numa máquina do tempo e visitar uma loja do tipo da Pearl, em Nova York, não iam acreditar na infinidade de tons que estão, agora, à disposição dos pintores.
As cores são a matéria fundamental da pintura, e os artistas fazem milagres. “Pintam e bordam”, dão forma, conseguem nos enganar aliando-as a truques de perspectiva; enfim, conseguem provocar sensações das mais diversas em todos nós. As cores dos trópicos em Gauguin, torturadas em Van Gogh, suaves em Fragonard, um dos grandes do Rococó, enfim, infinitas as nuances que esses mestres conseguiram mostrar em suas telas.
E como falei em telas, pintores e cores, vou encerrar xom a música Aquarela de Toquinho, quando diz que “nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá, o fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar. Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela que, um dia, enfim, descolorirá”. Enquanto não descolorir, quero a minha parede vermelho/vinho de novo, e pretendo me acostumar com as outras que ficaram rosadas; na verdade, mesmo que seja com olhos da cor mais sem graça do mundo, a de burro quando foge, quero ver todas as cores do mundo!

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