terça-feira, 7 de agosto de 2012


O PÃO E O CIRCO, O HOJE E O AMANHÃ

Fui aprender como economizar o “pão”, semana passada, subjulgada por meu espírito curioso (curiosíssimo, devo confessar).  Não consegui resistir ao convite para uma palestra organizado pelo projeto EDUCAR – BOVESPA – Mulheres em Ação, e lá fui eu.  Uma experiência bastante interessante, isso sem contar que o palestrante, por quatro horas ininterruptas, prendeu a mais completa atenção de todas nós, cerca de vinte mulheres!  Aquele tem o dom e deve ter tomado aulas com Fidel Castro para não perder o fôlego. Mostrou, sem dúvida, que o mundo financeiro não precisa ser encarado como um bicho de sete cabeças, e conseguimos, parece, perder definitivamente o medo do que parecia ser um reduto predominantemente masculino.
A linguagem direta, divertida e muito agradável de Antonio Vasconcelos nos deixou bem claro qual o espírito da coisa – devemos poupar hoje para que seja possível gastar tudo depois!  Comecei a desconfiar que é tudo bem o oposto à filosofia popular de “não deixe para amanhã o que pode fazer hoje.”  A cartilha deles ensina - Deixe para consumir amanhã, depois de amanhã, sei lá quando.
Segundo a boa regra do mercado, o que salvarmos hoje, vamos de qualquer maneira gastar no futuro, na velhice, daqui a alguns anos... a vantagem é que o dinheirinho vai aumentar com os juros que conseguiremos deixando-o quietinho por algum tempo.  Esse consumo adiado não quer dizer que será concretizado, necessariamente, no shopping, nos supérfluos, naquilo que vulgarmente consideramos consumo, mas será, invariavelmente, consumido. Quem tem dúvidas de que esse dinheirinho vai voltar à roda viva?  Vai pagar a faculdade dos netos, um apartamento maior, ou até mesmo nos salvar com os remedinhos que precisaremos para uma vida melhor.  Se não voltar a circular pelas nossas mãos, os herdeiros vão dar cabo dele bem mais depressa do que gostaríamos.  Não tem saída - uma hora ou outra, vai girar.
O problema é que é muito difícil sobrar para que possamos colocar no cofrinho.  Se temos uma receita mais reduzida, vamos nos comprimir no orçamento e damos conta.  Se elevamos os ganhos, vamos nos espalhando aqui, ali, sem muita percepção do movimento, e logo, logo, não podemos mais viver fora daquele novo padrão.  A dificuldade é a mesma para o pobre deixar de tomar o refrigerante no final de semana e o rico comprar apenas meia caixa de whisky, quando está acostumado a uma inteira!  Não nos controlamos, e a poupança, geralmente, vai para o espaço.
O cartão de crédito, o dinheiro de plástico, é um sedutor.  Como não saem da carteira as notas e as moedas,  a ilusão se instala de imediato e você nem percebe que gastou!  O dinheiro ao vivo está com os dias contados, servindo apenas para dar ao velhinho da porta da igreja, isso quando a gente vai à igreja, ou para o chiclete que o menino vende no sinal.  Pague seu carro em 60 meses e nem vai perceber que pagou 3 carros... Pagamos com cheque, com débito em conta; enfim, o mundo da fantasia, pois o que os olhos não vêem, o coração nao sente, não cifra, e continuamos com a volúpia das compras, praticamente sem abrir a carteira.  Tem agora o comércio ponto com...
Portanto, para poupar, temos que cortar.  E os especialistas afirmam - o que primeiro se corta é o “circo”.  O restaurante não mais será semanal, e o cinema, só em casa, com pipoquinha de microondas. Ou é a poupança que vai para o espaço ou é o lazer.
Eram cinco e meia, quando acabei de ouvir essa história toda de poupança, ações, CDB, PGBL, VGBL, cheque especial, e mal tinha tempo de chegar ao compromisso seguinte.  Literalmente, corri para a Estação das Letras e pude ouvir Tatiana Salem Levy falando de seu processo criativo.  Naquele espaço, sonhei, voei alto, pensei na alma e não na Bolsa.
Indo para casa mais tarde, noite alta, percebi o quanto tinha aprendido naquele dia.  Tanto recebi a receita para cortar despesas e aplicar onde posso fazer render alguns dos meus trocadinhos, como tive a confirmação de que a literatura, a arte, tudo isso é fundamental ao ser humano.  Em 10 minutos, havia comprado 4 livros.
Resumo da ópera – A BOVESPA e seus financistas me aconselham a gastar apenas o que é “essencial” para a sobrevivência.  Nada extra!  Nem os livros!  Com isso, aplico a sobra, deixo render e, em 10 anos, tenho um belo extra no meu cofre de porquinho.  Pois é, basta cortar meu lazer, meu prazer...
Pensando cá com meus botões.  Faltam 35 anos e meio para eu chegar aos 100.  Alguém vai acreditar que vou deixar de lado alguns dos maiores prazeres da vida para guardar por “meros” 10 anos uma determinada grana para, depois, consumir?  Mesmo sendo a mais otimista das pessoas, não sou ingênua.   Dez anos não são uma eternidade. São uma preciosidade!  Quero desfrutá-los intensamente.  Repito, a BOVESPA não me convenceu. Vou continuar comprando meus livrinhos, escolhendo a bolsa, não a de valores, mas a Prada,  Louis Vuitton...  Nesse momento da vida, a poupança é que deve ir para o espaço... não o prazer! Dele, não abro mão. Com cuidado, é claro, posso ter o pão e o circo. O que vale mesmo é o “Não deixe pra amanhã o que pode fazer hoje!”  E tenho dito!

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