E.
FINALMENTE, OS BRASILEIROS SE APAIXONARAM POR UM ARGENTINO
A implicância entre os dois povos
não é de hoje. Desde quando? Passa apenas pelo futebol? Seria Diego Maradona o mais significativo
símbolo da conhecida rejeição?
Histórias de dificuldades entre
nações são conhecidas através dos tempos.
Lembro-me de assistir, nos anos oitenta, no canal oficial da França, Antenne
2, agora o France 2, programas humorísticos que acabavam com a dignidade da
família real inglesa. Eu não conseguia entender como as relações diplomáticas
entre os dois países não azedavam ainda mais. Não se bicam desde a Guerra dos Cem
anos, aquela guerra que durou 116 anos e que teve Joana D’Arc como importante símbolo.
O príncipe Charles, é claro, era o alvo
preferido das piadas. Cá entre nós, ele
foi, é e será sempre um prato cheio para referências jocosas.
No mundo, são conhecidas algumas
implicâncias viscerais, a maioria por razões históricas. O povo chileno não gosta dos argentinos; na
Venezuela, ficam zoando os colombianos, e, de vez em quando, uruguaios e argentinos
também se estranham. Do outro lado do mundo, chineses e japoneses não se
entendem há tempos, e quem viu o filme ”O Último Imperador” encontrou alguns bons
motivos. Isso, sem falar em países que
estão em guerras que não acabam nunca.
Tentei descobrir algo mais profundo
e que realmente justificasse essa dificuldade entre brasileiros e argentinos,
mas só cheguei às explicações futebolísticas, que acabei aceitando sem
questionar.
Encontrei um cuidadoso trabalho de
dois professores da UERJ, Ronaldo Helal e Hugo Lovisolo, que estudaram a
cobertura jornalística esportiva em jornais argentinos e brasileiros desde 1970. O foco da pesquisa foi a imagem construída
por cada um dos países em relação ao outro. Para minha enorme surpresa, o relatório
é bastante interessante.
Resumo da ópera – o tratamento
entre os órgãos de imprensa dos dois países foi se mantendo em patamares fraternos
até o início dos anos 90, com apenas algumas eventuais e leves cutucadas. Mesmo com o sucesso de Maradona e o baixo
rendimento do futebol brasileiro nos anos 80, a imprensa argentina, naquele
período, ainda falava de nossos jogadores com muito respeito. Via-se “Brasil es siempre Brasil” nas
manchetes, e a eliminação da seleção brasileira nas copas de 1978 e 1986 foi sinceramente
lamentada pelos jornalistas argentinos.
O problema começou quando algumas
charges mexendo com Maradona apareceram em nossos jornais. Segundo os professores, foi o primeiro passo. Em 1998, a história esteve tranquila até os
argentinos saberem que os torcedores brasileiros haviam festejado os gols da
Holanda contra a seleção “hermana”. Foi, então, que parte da imprensa
especializada argentina passou definitivamente a hostilizar nosso futebol.
Do lado de cá, desde 1990 que
alguns de nossos jornalistas cutucam a onça com vara curta, suavemente naquele
início. Em 2002, a coisa ficou ostensiva,
de ambas as partes. Porém, os
professores ressaltaram que nossos comentários eram mais ácidos. Uma pena.
Como nada tem um só lado, vamos sempre
passear na Argentina, ficando os brasileiros em primeiro lugar no número de visitantes. Depois de nós, estão os chilenos, rolando,
sobre eles, uma piada ótima - eles adoram o tango por uma simples razão... em
cada uma das canções morre um argentino! Realmente, Buenos Aires é destino de
quase um milhão de brasileiros por ano. E
chegam por aqui cerca de um milhão e trezentos argentinos. Um senhor intercâmbio, sem qualquer
implicância de parte à parte.
Volto ao Papa Francisco. Chegou há menos de 24 horas ao Rio e já conquistou
gregos e troianos. Não são apenas os católicos que estão encantados; na
verdade, não tem apenas o carisma institucional, que vem com o cargo que ocupa,
mas carrega um intenso carisma pessoal. Seu
gestual é sedutor, e vemos alguém com invejável poder de comunicação, mesmo
quando apenas sorri. Na hora daquele
tumulto em razão do vergonhoso engarrafamento, ele não se retraiu, não mostrou
preocupação, nem fechou a janela para “se proteger”. Como dizem, está “dentro”. E se nos lembrarmos daquele que renunciou, a
mudança é incrível.
Quem é esse Francisco? Não me interessei pelas biografias lançadas,
por considerar um tanto prematuro, já que estarão falando de Jorge Mario Bergoglio,
enquanto o Papa Francisco ainda está se construindo. Hoje,entretanto, reconsiderei. Talvez seja
interessante descobrir que bagagem traz, qual sua estrutura, sua espinha
dorsal. E penso em ler “Sobre o Céu e a
Terra”, que traz diálogos travados entre ele, ainda arcebispo de Buenos Aires,
e o rabino Abraham Skorka. Dois
intelectuais que trazem o melhor de suas religiões, que falam do mesmo
Deus...
Deposito
esperança nele, ao perceber que tem o pé no chão, e chamo de chão não apenas o católico
apostólico romano. Parece-me que olha em
volta sem excluir, o que me anima bastante.
E ando meio desligada, tratando de meus assuntos espirituais diretamente
com os Superiores. Os intermediários não
me animam nem um pouco.
A partir dessas primeiras
impressões e do fato de que especialistas católicos acreditam que ele vai
estreitar os laços com outras religiões, espero que venha fazer alguma
diferença nesse mundo onde, até agora, os diversos credos somente serviram para
afastar as pessoas.
Saramago, ateu convicto e, sem
dúvida, muito polêmico, sugeriu algo brilhante – enquanto não conseguirmos seguir
AMAI-VOS, UNS AOS OUTROS, as religiões deveriam pregar – RESPEITAI-VOS, UNS AOS
OUTROS.
Gosto tanto dessa ideia ecumênica
que, em casa, há muitos símbolos católicos, alguns judaicos, dois do Hinduísmo,
isso sem esquecer de Iansã, representada por Santa Bárbara. Espero que a
convivência pacífica com o que há de bom em cada crença me faça uma pessoa
melhor.
Se o papa nasceu argentino, não parece
fazer a menor diferença...milhões de brasileiros estão completamente
apaixonados por ele! E eu, ainda sem
saber quando essa rivalidade realmente começou, trago a complexa interpretação
do Professor de Sociologia Pablo Alabarces, da Universidade de Buenos Aires,
sobre a questão – “Os brasileiros amam odiar os argentinos, e os
argentinos odeiam amar os brasileiros.”
Prefiro pensar em uma reinterpretação
dessa história – agora, muitos brasileiros amam estar com esse
argentino.
I like this pope very much. He is humble and has a sense of humour.
ResponderExcluirWhen I hear and see signs of respect to other religions I am happy .I think if you have a religion that makes intolerable of other religions is better to have no religion at all.
very interesting. here in the UK the english do not like the Irish and vice versa, the Scottish do not like the English but the English like the Scottish. All to do with History and territory. I like this pope . He is humble and I love his smile, it lightens up everything around him. I wish him well.
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